Cultura erudita e cultura popular
Cultura é uma construção humana e se opõe à natureza, aquilo que não passa pelo trabalho do homem. Para não deixar o conceito tão amplo, algumas divisões são criadas, entre elas as de popular e erudita.Fala-se em cultura popular e cultura erudita como se houvesse um rio que separasse claramente as duas margens. Este rio não existe, mas a divisão tem alguma utilidade operacional.
A cultura popular seria aquela que é produto de um saber não institucionalizado, que não se aprende em colégios ou academias; exemplo disso é o crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda a literatura de cordel. A cultura erudita, por outro lado, pressupõe uma elaboração maior e por isso uma institucionalização do saber. Isto é: o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por academias, bibliotecas, conservatórios musicais, etc, que selecionam o material e impõem regras rígidas e complexas elaborações. Bach, na música, e Ingres, na pintura, são exemplos disso.
Evidentemente, os conceitos popular e erudito escondem também uma valoração. Por muitos anos, a cultura popular foi considerada inferior à erudita; e erudito mesmo era aquilo que era europeu, de preferência francês, inglês ou alemão. Os brasileiros eram os primos pobres, que tinham que beber naquelas fontes para se curar de seu incurável atraso. Esse pensamento foi se transformando ao longo dos anos, graças às contribuições de autores que, dominando o saber erudito, reconheciam o valor imenso da cultura popular (Gilberto Freire, Mário de Andrade e Guimarães Rosa são alguns desses autores).
Uma manifestação típica da cultura popular brasileira (junto com a literatura de cordel) é a frase de parachoque de caminhão, que condensa muito da experiência e do saber popular. O bom humor do brasileiro, por décadas, foi literalmente "veiculado" nos parachoques de caminhão. Em estradas muitas vezes em péssimas condições, ficar atrás de um caminhão tinha pelo menos uma vantagem: ler a frase do parachoque. "A vida é um sutiã: a gente tem que meter os peitos", por exemplo, tem mais força que um tratado acadêmico sobre a importância do empreendedorismo!
A Mókpi está lançando neste mês de julho (de 2009) o Baralho do Caminhoneiro, justamente porque acredita no valor das manifestações populares. Como a "filosofia de caminhoneiro" corria o risco de se perder (existe uma lei que proíbe a colocação das frases no parachoque, porque elas distraem a atenção dos motoristas que passam pelo caminhão), a Mókpi está agora eternizando esta manifestação cultural no Baralho do Caminhoneiro, para que as novas gerações conheçam estas "pérolas" e respeitem os sábios anônimos que as criaram.
Cultura Popular
Cultura erudita